A Mídia NINJA e o Clímax, iniciativa de jornalismo climático da NINJA, marcaram presença na 62ª Sessão da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (SB62), realizada entre os dias 3 e 21 de junho de 2025, em Bonn, Alemanha. O fotojornalista e comunicador Oliver Kornblihtt representou os coletivos na cobertura direta das negociações, que antecedem a COP30, prevista para novembro em Belém (PA).
Ao longo de dez dias de intensas discussões, Oliver produziu registros, relatos e análises para informar, pressionar e conectar a cobertura do evento com as vozes do Sul Global, especialmente aquelas mais impactadas pela crise climática. A presença da Mídia NINJA reforça o papel da comunicação independente nas disputas internacionais por justiça climática.
“A Mídia NINJA está aqui pra acompanhar, pressionar e conectar com as vozes que estão na linha de frente. Porque o clima não pode esperar — e nem os povos que vivem diretamente os efeitos da crise”, afirmou Oliver em uma de suas publicações.
Obstáculos rumo à COP30
A SB62 revelou grandes entraves nas negociações preparatórias. O principal deles: o financiamento climático. De acordo com análise de Cinthia Leone, coordenadora internacional do Clima.Info, a falta de compromissos concretos por parte dos países desenvolvidos travou avanços nos temas mais urgentes, como adaptação e transição justa.
“É difícil falar de adaptação sem falar de dinheiro”, pontuou Leone. “O financiamento está espalhado por todas as frentes das negociações e, sem ele, nada avança.”
Apesar de uma proposta inicial promissora, o debate sobre financiamento emperrou, com os países europeus evitando colocar recursos na mesa. Os EUA sequer participaram ativamente. A consequência foi a estagnação de discussões estruturais, como o Global Stocktake — o Balanço Global —, que deveria monitorar a implementação dos compromissos assumidos no Acordo de Paris.
O Brasil como liderança climática
Na pauta da conferência, os temas centrais incluem a adaptação — com propostas para tornar os indicadores mais práticos —, a transição justa — com negociações que buscam destravar o impasse deixado pela COP29, no Azerbaijão — e a implementação do Global Stocktake, com esforços para garantir que o texto final inclua a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.
Apesar da tentativa, os chamados “elefantes na sala” — fósseis e financiamento — continuaram dominando o clima das negociações.
Fósseis, finanças e futuro incerto
Um dos pontos mais críticos foi a ausência de espaço efetivo para discutir a eliminação dos combustíveis fósseis, mesmo após os avanços obtidos na COP28, em Dubai. Países em desenvolvimento evocaram o artigo 9 do Acordo de Paris, que obriga nações ricas a proverem recursos financeiros, e o artigo 2.1, que trata da provisão de meios de implementação para ações climáticas.
“Dinheiro e combustíveis fósseis são os dois grandes imbecis dessas negociações”, sintetizou Leone.
Caminho até Belém
Com o fim da SB62, a responsabilidade agora recai sobre a COP30. A presidência brasileira terá o desafio de não apenas liderar tecnicamente os temas mais sensíveis, mas também de politicamente destravar a agenda internacional.
“Estamos levando para Belém a mensagem de que Baku não resolveu o financiamento. Vamos ter que discutir o dinheiro que os países ricos precisam entregar aos países em desenvolvimento”, conclui Leone.
Com sua cobertura direta e crítica, a Mídia NINJA e o Clímax seguem acompanhando os bastidores da agenda climática global, mobilizando redes e construindo pontes para que a COP30 seja um marco de protagonismo do Sul Global — e não apenas mais um encontro de promessas vazias.