Na cidade paraense, a equipe dialogou com ativistas locais e visitou pontos turísticos
Por Jessica de Albuquerque / Casa NINJA Amazônia
A Casa NINJA Amazônia Tour deu sequência em seus percursos pelas amazônias brasileiras e chegou até Santarém, no Pará. Fundada em 22 de junho de 1661, é uma das cidades mais antigas da região.
Em 1758 foi elevada à categoria de vila e quase um século depois em consequência de seu notável desenvolvimento, foi elevada à categoria de cidade em 24 de outubro de 1848. Está incluída no plano das cidades históricas do Brasil, sendo uma das mais antigas e culturalmente significativas cidades do Pará.
Santarém localiza-se na Mesorregião do Baixo Amazonas, na margem direita do Rio Tapajós, sendo a terceira maior cidade do estado do Pará e o principal centro socioeconômico do oeste do estado, porque oferece melhor infraestrutura econômica e social (como escolas, hospitais, universidades, estradas, portos, aeroportos, comunicações, indústria e comércio e etc) e possui um setor de serviços mais desenvolvido.
Uma das manifestações culturais no município é a cerâmica tapajônica que apresenta representações de humanos ou animais em relevo. Esta cerâmica é tão perfeita que chega a ser comparada com a mais fina porcelana chinesa. Existem peças de cerâmicas tapajônicas espalhadas por vários museus do mundo.
Conhecida poeticamente como a ‘Pérola dos Tapajós’, Santarém integra esse Brasil de cultura mista e gente acolhedora.
Na cidade que há o Encontro das Águas entre os rios Amazonas e Tapajós, há um povo que luta pela sua terra e pela preservação de riquezas naturais que a amazônia dispõe.
Para conhecer quem são os nomes e os personagens que desenvolvem iniciativas na região para fortalecer essas histórias.
Restaurante do Saulo
Durante nossa visita na cidade, fomos conhecer o restaurante Casa do Saulo, que fica às margens do rio Tapajós.
Bastante acolhedor, o ambiente que dispõe também de uma pousada, tem em sua culinária pratos variados e que revelam a força da cultura paraense. Entre eles estão: o filé de pirarucu grelhado com molho de castanha do pará, banana da terra e camarão rosa, o arroz de pato no tucupi, o canelone tapajônico, o recheado de pirarucu defumado e o pastel de queijo de búfala do Marajó acompanhado de maionese de pirarucu.
Durante nossa visita, conversamos com o chef Saulo Jennings, que é dono do restaurante e também ativista pela Amazônia. Ele falou sobre a valorização cultural e a importância de manter a floresta em pé, nas quais os povos amazônidas são responsáveis por esta preservação:
“Isso aqui é tão simples, estava aqui, é nosso, está dentro do nosso quintal, está atrás da nossa casa. É a chicória que para a gente é mato, e é uma das melhores ervas, mais saborosa que deixa nosso tucupi melhor, nossa caldeirada melhor”.
Saulo Jennings
Associação Indígena do Baixo Tapajós
A Associação Indígena do Baixo Tapajós também foi um dos lugares visitados pela CASA NINJA Amazônia, onde a conversa com Auricélia Arapiuns uma liderança local, teve como pauta a situação vivida pelos povos indígenas e tradicionais e os impactos que os mesmos vem enfrentando há anos.
Durante nossa conversa com a Auricélia, a liderança fez uma análise da situação vivida pelos povos tradicionais e os impactos que a região vem enfrentando há anos.
Dentre esses efeitos, Auricélia, que é estudante de direito e presidente do conselho deliberativo da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, destacou o avanço de empreendimentos na região, o crescimento do agronegócio, além do aumento da mineração e do hidronegócio.
“Eles veem a floresta como um mercado, diferente do que a gente vê”.
Auricélia Arapiuns
Auricélia vem sofrendo ameaças desde 2018 por causa de sua luta em defesa dos direitos dos povos indígenas e proteção da floresta amazônica.
Neste ano, durante a Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia, realizada em Belém (PA), recebeu “recados” para cuidar da segurança após declarar em um vídeo que o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), “está com as mãos sujas de sangue”, durante seu discurso no evento.
A líder defende o fortalecimento de políticas públicas para os povos da floresta, que os indígenas sejam ouvidos, inclusive sobre o crédito de carbono e lembra que são esses povos os protetores da Amazônia.
No Baixo Tapajós, vivem cerca de 7 mil indígenas, distribuídos em 64 aldeias de 18 territórios, localizados nos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro.
Dentre eles estão os povos: Arapiun, Arara Vermelha, Jaraqui, Apiaká, Borari, Kumaruara, Tapajó, Tupaiu, Tapuia, Munduruku, Munduruku-Cara Preta, Maytapu e Tupinambá.
Mercadão 2000
A Casa NINJA Amazônia Tour, durante a segunda etapa do projeto, passou por Santarém (PA), para conhecer o Mercadão 2000, o principal centro de abastecimento do Baixo Amazonas.
Com produtos variados, nos quais englobam peixe, frutas e verduras regionais. Plantas medicinais e outros fármacos naturais produzidos a partir de espécies nativas, também são encontrados por lá.
A farinha, que é bastante utilizada em diversos pratos típicos da região, também é comercializada no espaço e se destaca por ser dividida em grandes porções.
Os sacos de farinha também integram parte dos 385 boxes construídos no Mercadão, onde se destacam pela cor vívida e pelas grandes porções que são divididas.
Fundado em 1985 e contendo 385 boxes, o Mercadão 2000 foi construído pela necessidade de dar suporte ao desenvolvimento de uma parte da cidade, buscando destacar o turismo e, fundamentalmente, atender a necessidade de abastecimento daquela área da cidade.
Maria Ivete Bastos, presidente do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém
Em Santarém também entrevistamos Maria Ivete Bastos, presidente do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém. À frente do cargo pela terceira vez, Maria Ivete é líder na luta contra o latifúndio e os agrotóxicos, primando pela resistência nos territórios.
Atuando também na defesa dos direitos humanos, durante a entrevista Maria Ivete deu uma aula sobre justiça climática, uma vez que colocou a vida na linha de frente para manter a floresta viva e garantir a soberania alimentar dos povos que ali vivem.
“Para fazer justiça climática, não é só a defesa dos territórios em si mas é de toda a biodiversidade e olhar para a Amazônia como um território que é especial”.
Maria Ivete
Alter do Chão
A vista de Alter do Chão que também fica no município de Santarém, nos encantou com suas belezas naturais. As canoas compõem este cenário que durante o inverno amazônico na temporada de seca, baixa o nível das águas alterando assim a paisagem. Terra dos povos indígenas, lá encontramos Alessandra Munduruku que falou da luta e resistência dos povos que vivem no entorno do grande rio Tapajós.
Porto da Cargil
Já na paisagem do centro de Santarém, vimos como a mesma é marcada pelo porto da Cargil, que embarca milhares de toneladas de soja todos os dias e representa todo o avanço destrutivo do agronegócio sobre a floresta.
Operando desde 2003, o Terminal Portuário da Cargil está instalado entre os rios Tapajós e Amazonas e tem impactado direto e indiretamente na vida dos moradores do Baixo Tapajós, nos quais se sobressaem o avanço de plantações, as invasões nos territórios, as dificuldades para manter a agricultura familiar, a insegurança alimentar e a presença dos agrotóxicos.
Roda de Conversa
A nossa Roda de Conversa no Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras de Santarém, encerrou nossa passagem pela cidade. Com a participação de ativistas locais, o nosso encontro fortaleceu as redes e mostrou o quanto esses coletivos querem se conectar a um mundo viável.