Por Bianca Lima
O sistema midiático dominante no Brasil ainda é fortemente eurocêntrico e norte-americano. Tanto na televisão quanto no rádio e nas plataformas digitais, continua sendo difícil acessar notícias em português sobre o que ocorre nos países da América Latina, Ásia e principalmente na África.
Quando as raras notícias sobre esses continentes são reproduzidas, elas são acompanhadas da ótica eurocentrada e norte-americana. Talvez o exemplo mais recente disso seja o golpe de estado no Níger, país do continente africano, localizado mais precisamente na região geopolítica denominada África Subsaariana.
Em 26 de julho deste ano, as forças militares do Níger destituíram Mohamed Bazoum, presidente do país, e com forte apoio popular assumiram o cargo. Com um discurso anti-colonizador e fortemente panafricanista, os militares, resumidamente, justificam o golpe pela subserviência de Bazoum à exploração do governo francês. O Níger foi oficialmente colonizado pela França até 1960, e mesmo tendo declarado sua independência, o país até os dias atuais permanece suscetível às regras impostas pelo país europeu.
Desde esse episódio, o pequeno país africano vem ganhando destaque na mídia ocidental, com duas narrativas antagônicas, mas ambas superficiais. Por um lado, temos a narrativa criada pelas grandes corporações de que um golpe no Níger representa graves consequências para o progresso democrático e a luta contra uma insurgência de militantes jihadistas na região onde o Níger está localizado.
Por outro lado, temos a narrativa, envolta em romantismo da mídia progressista, que conecta o golpe no Níger com uma possível rebelião dos países da região do Sahel, zona que fica abaixo do deserto do Saara, que concentra os mais baixos índices de desenvolvimento humano do mundo, formada por Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger, a parte norte da Nigéria, Chade, Sudão, Etiópia, Eritreia, Djibouti e Somália.
Entre as duas narrativas, a revolta dos países do Sahel contra os colonizadores europeus me atraiu mais. Conectando o levante do Níger com os discursos contundentes do atual presidente de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, a força do continente africano, tão aclamada pelo líder pan-africanista Thomas Sankara num passado recente, se fez possível nos dias atuais.
Ao buscar mais informações sobre o que se passa no Níger, deparei-me com vídeos, podcasts, threads no Twitter, entre outros, que buscavam resumir em poucos minutos as complexidades do continente africano.
Durante a busca por mais informações sobre a agitação política que vive o continente africano, encontrei um episódio do podcast “África em Pauta”, que abordava com profundidade o cenário atual do Níger, e também temas variados sobre cultura, esporte e política dos países africanos. O “África em Pauta” é produzido pelo “Ponta de Lança”, projeto existente desde maio de 2019, que propõe conectar os laços entre o Brasil e a África, através da descentralização das informações, narrativas e interações do continente-mãe.
Para quem deseja entender a complexidade geopolítica africana, indico com ênfase esse podcast. Ao ouvir mais de uma hora de cada episódio, certamente você conseguirá elementos para compreender as consequências de séculos de exploração europeia no continente e, principalmente, os caminhos futuros que os 54 países africanos têm pela frente na busca por melhores condições para os mais de 1 bilhão de habitantes.
Ouça o “África em Pauta” e fique um pouco mais próximo da realidade do nosso continente mãe.