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Diário de Bordo #2: rota amazônica atravessa o paraíso de Vila Bela da Santíssima Trindade

por | maio 4, 2023

Foto: Jhenifer Catherine

Por Lidiane Barros

Conectando pontos entre a atual e aquela que foi a primeira capital mato-grossense, Vila Bela da Santíssima Trindade (a 562 km de Cuiabá), aportamos por lá no nosso segundo dia. Nosso primeiro destino era o Cânion do Jatobá, situado no Parque Estadual Serra Ricardo Franco. Da cidade até o ponto de acesso, são 17 km.

A partir daí, seguimos por dentro da serra, margeando os caminhos das águas da Cachoeira Jatobá. Um deles é o Córrego Arvaídes que surpreende pelo cenário. Nossa guia, Luana Samaia Neves de Souza, explica que a estiagem começou mais cedo e em maio, as águas já secaram. Segundo ela, entre os meses de chuva, dezembro a março, as águas podem alcançar profundidade considerável, a ponto de impedir o acesso de turistas, por força da correnteza. Diante do cenário de um “rio de pedras”, ela alerta que a degradação das nascentes pode secá-lo de vez.

Em meio ao trajeto até o cânion, visualizamos mix de vegetação com espécies da Amazônia e Cerrado. A trilha de 2,5 km nos levou então, ao tão aguardado cânion. Valeu cada desafio. O cenário é singular: suas águas de longe são azuis, mas de perto, cristalinas, emolduradas por paredões de arenito simetricamente desenhados pela ação do tempo.

Depois de um tempo de contemplação e banho, o almoço! Tínhamos agendado com o restaurante da Meire, que fica a uns 4 km na direção contrária da cidade. Comida caseira da melhor qualidade, preparado por essa baiana arretada. Rosemeire Rocha vive ali com o marido, Ozenaldo Pereira, o Tezinho. Outrora escravizado por fazendeiro, junto à Meire, tenta empreender em um lugar que tem potencial turístico, mas precisa de mais incentivo do poder público. Isto é, se não extinguirem o Parque Serra Ricardo Franco, ameaçado por um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa em defesa de sua extinção.

Saindo de lá, voltamos para a cidade, onde o colaborador Mauro Crema nos aguardava para uma breve visita às ruínas da catedral histórica. As paredes em adobe foram se deteriorando com o tempo e clima úmido. É que além dos biomas Amazônia e Cerrado, Vila Bela também tem regiões alagadas, é aí que entra o Pantanal do Guaporé.

Partimos então para um passeio pelas águas escuras e misteriosas do rio Guaporé. Ele nasce na Chapada dos Parecis (MT) e chega até a foz no rio Mamoré, em Rondônia (estado que também compõe a rota Refloresta Já).

Deu para curtir um passeio de barco nos arredores da orla para que a gente pudesse encontrar alguns de seus ilustres moradores, os botos cinza e rosa. Também nos encantamos com os pássaros voltando para casa no pôr-do-sol. Vimos garças, biguás, inhumas, ciganinhas e araras canindé.

Voltamos à orla, tínhamos que chegar rápido ao ensaio do Quilombo de Batuque, que segundo suas dançarinas, começou a ser formado nas cozinhas das festas de santo e em breve deve tornar-se atração desses mesmos festejos. Mas a intenção, é mesmo ganhar o mundo. Antes, tivemos o privilégio de acompanhar as encantadoras mulheres do chorado, com muito domínio, dançam ao tempo em que equilibram garrafas sobre a cabeça.

Para mergulhar mais profundamente na cultura vilabelense também conhecemos o Museu Histórico da cidade e o Palácio dos Capitães-Generais. É lá que fechamos nossa imersão, com uma roda de conversa na qual moradores compartilharam suas vivências.

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