Por Juan Espinoza
“Você poderia inspirar uma atitude global e séria: parar e sonhar. “Temos coragem de sonhar porque acreditamos que existem mundos e possibilidades.”
Ailton Krenak, ambientalista, filósofo e escritor Brasil 2021
Diante dos acontecimentos que vivenciamos como humanidade dos diversos territórios, nos reinventamos constantemente para enfrentar o que está por vir. Propomos aprender constantemente com cada passo dado para não errar no próximo. Essa é uma posição e uma perspectiva ideal, gerada a partir de uma abordagem cultural.
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Este novo século surpreende-nos com evidências cada vez mais contínuas e difundidas nas diferentes latitudes deste globo que nos contém. Alagamentos de cidades durante semanas, secas nunca antes vividas, temperaturas anormais, espécies que simplesmente se extinguem, gelo eterno transformado em água, centenas de populações são desalojadas dos seus territórios para transformá-los em fonte de negócios, inúmeras mulheres e homens indígenas, líderes camponeses e negros são mortos por defenderem os seus recursos.
Vozes individuais e coletivas respeitadas têm-nos alertado sobre estes acontecimentos há décadas:
“Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. (…) Sua ganância empobrecerá a terra e vai deixar atrás de si os desertos. (…) O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios.”
Carta do Chefe Seattle, da tribo Duwamish, ao presidente dos Estados Unidos em 1885
“Uma importante espécie biológica corre o risco de desaparecer devido à rápida e progressiva liquidação das suas condições naturais de vida: o homem. Agora estamos cientes deste problema, quando é tarde demais para evitá-lo.”
Comandante Fidel Castro, Conferência da ONU no Rio 1992
Lei Dos Direitos Da Mãe Terra. Princípios: Harmonia; Bem Coletivo; Garantia de regeneração; Respeito e defesa dos Direitos da Mãe Terra; Não mercantilização; Interculturalidade.
Lei, Estado Plurinacional da Bolivia 2010
“Vamos acordar! Vamos acordar a humanidade! Não há mais tempo. As nossas consciências ficarão abaladas pelo fato de estarmos apenas a contemplar a autodestruição baseada na predação capitalista, racista e patriarcal.”
Berta Cáceres. Líder hondurenha Lenca assassinada por defender os rios em 2016
Segundo a visão de mundo Sarayaku, o ecossistema do seu território é composto por três unidades ecológicas essenciais: Sacha (Selva), Yaku (rios) e Allpa (terra), que sustentam um número infinito de espécies faunísticas e florísticas transcendentes à sua existência. Por esta razão Sarayaku tem a visão e missão de “preservar e utilizar os recursos naturais do seu território de forma sustentável e sustentável, para fortalecer o Sumak Kawsay (vida em harmonia) e garantir a continuidade do Kawsak Sacha (Floresta Viva)”
“Essa narrativa venenosa de que deus criou o mundo e botou os humanos para administrar é muito cretina, é artificial demais. Ela nega a existência de toda a vida e institui o homem como gerente do negócio.”
Ailton Krenak, ambientalista, filósofo e escritor Brasil 2021
“Uma nova e avassaladora utopia da vida, onde ninguém será capaz de decidir como os outros morrerão, onde o amor provará que a verdade e a felicidade serão possíveis, e onde as raças condenadas a cem anos de solidão terão, finalmente e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra.”
Gabriel García Márquez, Discurso ao receber o Prêmio Novel, 1982
Se analisarmos o enquadramento de conceitos, valores, princípios, aspirações e práticas de cada um dos textos anteriores, podemos concluir que estes respondem ao suporte dos seus modos de vida, do seu fazer e estar no mundo, da sua relação com o seu território, com o homem, com a natureza, em síntese e em essência respondem à sua cultura.
É aqui que nós sustentamos a Cultura, que no seu sentido mais lato deve estar no centro dos debates sobre as crises ambientais que a humanidade atravessa. A cultura para além da sua transcendência simbólica, para além do poder da arte para gerar reflexão e empatia identitária. A cultura como campo comum de sentido e práticas em que nos posicionamos e a partir do qual agimos.
A abertura e construção de estradas, a produção de alimentos, a construção de moradias, os valores e conteúdos educacionais, as abordagens e práticas de saúde pública, a produção de roupas, o combate à discriminação, o combate à violência contra as mulheres, o cuidado dos filhos, a vida de casal e a vida coletiva, como bem como tudo o que fazemos responde a abordagens culturais. Como não partir deles para pensar e planear políticas de desenvolvimento humano e de sustentabilidade.
Não podemos separar a necessidade de viver bem apenas como direito de uma das espécies da natureza, somos integralidade no maravilhoso conceito dos povos indígenas, somos parte do “território”. O que fazemos com árvores, rios, animais, seres humanos e humanas faz parte de um sistema que deve ser preservado e cuidado.
A vida toca o alarme para nós a cada intervalo. A arte da humanidade estará em saber ouvir e na coragem de reconhecer para corrigir.