Por Juan Espinoza Del Villar
Durante duas semanas receberemos 30 integrantes de companhias de dança latino-americanas participando da décima versão deste encontro artístico que acontece em São Paulo, Brasil.
Serão um total de 33 companhias, da Argentina, Bolívia, Chile, Peru, Equador, Colômbia, Guatemala, México, Venezuela, Uruguai, Paraguai e Brasil com igual número de produções. Seus trabalhos serão apresentados principalmente no Centro Cultural de São Paulo, após de um dia repleto de aulas, encontros e apresentações artísticas que serão realizados no dia 9 de outubro na Nave Colectiva. Neste dia receberemos mais de 100 participantes deste importante evento.
Depois de assistir às apresentações da versão 2022, surgiu a seguinte reflexão sobre este encontro de dança, performance e ativismo, acompanhada de algumas fotografias tiradas nesse mesmo ano.
Corpos políticos
Dança à Deriva, pelo seu nome, conduz-nos à sua intenção de releitura permanente dos contextos regionais, óticas flexíveis favorecidas para refletir realidades desafiadoras, mutáveis, surpreendentes, emergentes. Encontro de significados explícitos marcado por uma leitura incisiva das diversas situações emergentes que vivenciamos na região.
Seu campo de referência é a América Latina, território de resistência persistente, heterogêneo de inúmeros povos de culturas ancestrais, comunidades indígenas e afro-latinas com valores coletivos e comunitários. Um território que, pela sua entrelaçada realidade histórica, pela sua configuração geopolítica e pelas suas múltiplas riquezas naturais, confronta e desafia as ambições das potências hegemônicas anglo-europeias.
Os encontros latino-americanos estão idealmente enquadrados na luta ideológica, por isso subscrevem, consolidam e instituem a sua presença anual com o conceito de que os corpos, as cuerpas, são expressão política das suas reivindicações expressivas, das suas realidades não hegemónicas e da sua exigência de plena existência e respeitado.
Argumenta-se que a chave para a mudança social não é a ideologia, mas os corpos, os afetos e os hábitos. E a política, não tanto a missão de educar os outros e explicar-lhes como são as coisas, mas a arte de facilitar encontros e formar hábitos que construam corpos coletivos mais potentes, de construir outras formas de sincronizar e orquestrar corpos, ritmos e sentidos.
Corpos, afetos, proximidade e seu impacto na leitura das realidades latino-americanas exigem encontros com respeito às diversidades culturais, etárias, físicas e sexuais. Encontros para nos reconhecermos, para conspirarmos pela alegria e pela revolução (que, sempre, será dançada).