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Casa NINJA Amazônia Tour realiza encontro em Palmas e conversa com lideranças na capital do TO

por | set 20, 2023

Na cidade, a equipe visitou lideranças locais, organizações e coletivos, estimulando a criação de redes através da comunicação

Foto: Mídia NINJA

Por Jéssica de Albuquerque

Seguindo a rota pelas Amazônias brasileiras, a Casa NINJA Amazônia Tour esteve em Palmas, conhecida como a capital mais nova do país. Só que esse posto que a cidade carrega tem suas contradições.

O território que hoje leva o nome de Palmas, tem sua história construída por povos tradicionais, indígenas, quilombolas há mais de um século. Entretanto, a história contada é que a capital nasceu em 20 de maio de 1989, poucos meses depois da instalação de Tocantins, emancipado de Goiás.

Para entender melhor as vidas que habitam nesse território tão potente, fomos conhecer primeiramente a Praia do Prata.

Praia do Prata

A Praia do Prata é uma das belezas naturais existentes nas margens do Rio Tocantins. Palmas tem esse rio como sua espinha dorsal, presenteando a capital com belas praias e paisagens. Com grande quantidade de palmeiras na região, a mesma possui características típicas de clima tropical de savana: altas temperaturas registradas o ano todo.

Coletivo SOMOS

Nossa Tour também visitou o Coletivo SOMOS, o primeiro mandato coletivo do Tocantins.

Foto: Mídia NINJA

O SOMOS surgiu em 2018 com foco na resistência cultural, lutando por direitos das minorias, em especial LGBTQIA +. É o primeiro projeto de mandato Coletivo no Tocantins, e os defensores dos direitos humanos são uma organização política de forte incidência na luta contra as desigualdades sociais, o racismo e preconceitos.

Durante o diálogo, um dos pontos aprofundados foi o quanto as redes são imprescindíveis nesse processo de luta. Ademais, porque o cenário político não era animador e invalidava de inúmeras formas os movimentos sociais, sobretudo direito dos mesmos ao acesso de políticas públicas.

Casa 8 de março

A tripulação NINJA também foi conhecer a história de luta e resistência feminista da Casa 8 de Março, a primeira organização feminista do estado.

Atuando desde 1998, a ONG luta por todas as mulheres, sobretudo as periféricas, negras, indígenas, em situação de vulnerabilidades e exclusão:

“Criando o vínculo a gente sente a necessidade de uní-las, aí surgem outros problemas como a questão das drogas, do álcool e a gente passa também a trabalhar sobre isso. E a gente foi abraçando novas causas, redução de danos, porque não tinha como tratar as mulheres, mulher nunca foi prioridade né, nessa questão de álcool e de drogas”, relatou Dona Bernadete, pioneira do movimento feminista na cidade. 

Com 25 anos de história, a estrutura da entidade conta com dois salões onde são realizados cursos e atividades de formação.

Articulando de forma assídua diante das pautas feministas, o espaço já contribuiu para a instalação e avanço das seguintes redes no Estado: Fórum de Articulação de Mulheres Tocantinenses, Fórum Estadual de Lutas por Terra, Trabalho e Cidadania, Comitê para participação nos Fóruns Sociais, Rede de proteção das mulheres que sofrem violência, entre outros.

O projeto já recebeu 3 prêmios, sendo eles: o Prêmio Cidadania Mundial, em 2003, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos/SEDH/MJ, 2006 e o Prêmio Promoção dos Objetivos do Milênio em 2010.

Tocantins território quilombola

Dentro desses mais de 30 anos de criação do estado, estão histórias e vivências de diversos povos que há muito mais tempo resistem naquele território, que lutam contra as invisibilidades, onde a luta pelos direitos básicos têm sido o principal viés de resistência. Dentre esses povos, estão os quilombolas, que hoje já se aproximam de 50 comunidades, mas que não fazem parte da narrativa tocantinense, tampouco são reconhecidos como imprescindíveis para a construção histórica do estado.

Maryellen Crisóstomo, liderança quilombola do Baião, localizado em Almas (TO), que tem colaborado não somente na produção desta etapa de nossa caravana, mas fazendo diversas pontes entre Tocantins e Casa NINJA Amazônia, fez um panorama da situação dos quilombos no Estado:

“O Tocantins embora ele tenha mais de 40 comunidades é o estado que esteve por muito tempo sendo visto como o estado que foi criado, um estado novo e essa narrativa ela invisibiliza ou tentou invisibilizar a presença de comunidades ou povos que já estavam aqui antes de 1988, e essas comunidades elas não fazem parte até então do plano de desenvolvimento do Estado. Então, elas estão muito mais sujeitas a violências na área rural, porque os empreendimentos agrícolas que se instalam nas áreas rurais, eles incidem justamente sobre as áreas dessas populações, onde elas já habitaram por mais de 100 anos”, enfatizou. 

A jornalista e coordenadora executiva da COQETO também explanou sobre o papel exercido pela Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Tocantins, na defesa dos direitos dos quilombolas:

“Então a COEQTO tem feito essa articulação para garantir a permanência dos povos nos seus territórios, para garantir os direitos, mas nós ainda esbarramos no fato de no Tocantins não ter nenhuma área quilombola totalmente demarcada e titulada. Nós temos uma área que foi iniciado o processo de expropriação do território, temos 6 áreas já com perímetro reconhecidos pela União mas a maioria está fora. Então, nós estamos dentro daquela estatística do censo do IBGE, onde mais de 90% da população quilombola está fora do seu território. Está fora não porque saiu da área e foi para outra, mas porque a sua área não é oficialmente reconhecida por nenhuma esfera governamental”. 

Maryellen Crisóstomo, liderança quilombola do Tocantins.

Diante desse cenário, se faz necessário construir conexões que possam fortalecer os coletivos, promovendo a integração dos mesmos nos espaços.

Roda de conversa

O Encontro NINJA em Palmas mostrou que a busca por uma comunicação diversificada dessas articulações, coletivos e agentes culturais, é o caminho para reconectar esse país que enfrenta a disparidade nos âmbitos sociais, econômicos e políticos.

Durante o encontro, em diversos momentos fomos surpreendidos por relatos e falas potentes de quem já faz parte da rede e de quem movimenta seus territórios com cultura, lutas e tantas outras articulações.

Fomos surpreendidos pelo relato de Carla Lisboa, fundadora do Festival Marmotas e do Coletivo Sete Faces, integrados ao Fora do Eixo e a Abrafin – Associação Brasileira de Festivais Independentes. Carla é uma atriz mineira mas mora em Palmas desde a pandemia.

Carla Lisboa, fundadora do Festival Marmotas e do Coletivo Sete Faces.

Antes da pandemia começar, Carla ia iniciar um mochilão para conhecer as centenas de festivais de música independente que acontecem no interior do Brasil, chegou em Palmas para visitar algumas amigas e a pandemia não a permitiu continuar em circulação.

O relato da atriz mineira tem base nas suas experiências dos últimos 10 anos, durante os quais se dedicou a construir, coletivamente, arranjos culturais em territórios do Brasil profundo.

A vivência de Carla compartilha sobre levar o Festival e o Coletivo para sua cidade, como isso ajudou a movimentar a cena de música autoral e independente no seu território, colocar para circular bandas, artistas e produtores, inspirando, assim, quem ouviu as palavras dela durante o encontro.

Carla ainda afirma que quer levar o Festival Marmotas para Palmas, para somar na cena local e assim contribuir para o impulsionamento da cultura tocantinense.

Conhecemos, ainda, a história de Ana Mumbuca, que contou que tem uma irmã, chamada Núbia Matos, que hoje estuda jornalismo inspirada no trabalho e no que representa a Mídia NINJA.

“Sei o quanto é importante a existência de vocês, vocês foram inspiradores para nós. Eu tenho uma irmã, quilombola mambucana e faz jornalismo hoje inspirada em você. Uma quilombola, a primeira a se formar e ela criou um podcast ‘Viver Mumbucar’, que ficou entre os 5 mais escutados do Spotify durante um tempo na temática de história”.

Para Ana, “isso é maravilhoso, vocês estão inspirando a gente a existir, a demarcar a nossa existência dentro de um cenário em que nós povos quilombolas, indígenas, tradicionais, ribeirinhos, somos invisibilizados e apagados da história.”

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