A equipe também promoveu uma roda de conversa com movimentos sociais.
Por Jéssica de Albuquerque
Seguindo os percursos pelas Amazônias brasileiras, a Casa NINJA Amazônia Tour chegou em Marabá, no sudeste do Pará. Centenária, a cidade que surgiu no início do século XIX, foi povoada por descendentes europeus e tem como característica a miscigenação de povos e culturas.
O desenvolvimento de Marabá ocorreu na década de 1970, com a intensa migração de pessoas em busca de ouro em Serra Pelada. Já em 1980 a cidade enfrentou sua maior enchente, culminando na sua expansão. E os preparativos para a instalação de indústrias siderúrgicas para produção de ferro-gusa, trouxeram grandes benefícios econômicos para o município.
Também conhecida como a Terra da Castanheira, Marabá é marcada pelos conflitos no meio rural. A grande demanda de mão de obra, a falta de qualificação do trabalhador e as irregularidades fundiárias existentes desde o desenvolvimento da cidade, foram cruciais para o aumento das disputas territoriais. Essas tensões resultaram em assassinatos de sindicalistas, camponeses, líderes religiosos, políticos e ambientalistas.
Território de José Claudio e Maria
Durante nossa passagem por Marabá, fomos até Nova Ipixuna, na região sudeste. Lá visitamos a reserva e a casa de José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, casal de castanheiros e ambientalistas assassinados em 2011 no assentamento agroextrativista Praia Alta Piranheira. A reserva também abriga ‘a Majestosa’, uma castanheira com idade estimada entre 500 e 1000 anos.
Já em Marabá, visitamos o Instituto Zé Cláudio e Maria, que há 12 anos luta pela justiça social no campo, a regularização fundiária, a proteção da biodiversidade e o respeito aos povos tradicionais. Apoiando coletivos que visam a defesa e o cuidado com a floresta, o Instituto que leva o nome do casal ativista assassinado.
Lá, nos contaram sobre o Grupo de Trabalhadoras Artesanais Extrativistas que produzem cosméticos, com matéria prima extraída da natureza. Elas fabricam sabonetes em barra, pomadas cicatrizantes, cremes hidratantes e óleo de andiroba.
A nossa conversa com Claudecir Ribeiro, irmã de Zé Cláudio, mostrou o indispensável papel destes povos para a resistência da floresta amazônica. Sentada em uma rede, ela expressou sua gratidão por viver naquele lugar, prezando pelo respeito ao meio ambiente:
“A natureza dá um retorno rápido se você perceber, se você deixar um pedaço da mata lá sem mexer, ela vira um capoeirão. Quando você faz uma rocinha, com 3 anos você vai lá, você não sabe onde era mais, pelo menos aqui é assim. A mata cresce muito rápido, ela é muito generosa”.
Escola Carlos Marighella
Também fomos até a Escola Carlos Marighella, no Assentamento 26 de Março, à 30 km de Marabá. Pioneira do Movimento sem Terra, a escola tem um projeto pedagógico rural preparado para a emancipação do povo do campo. Dentro desse projeto, estão incluídas a horta desenvolvida pelos alunos e o viveiro de mudas. No espaço, ministramos a Oficina de Comunicação que teve a participação de jovens da comunidade.
O Assentamento 26 de Março foi ocupado em 1999, e foi batizado após o assassinato de dois militantes do Movimento Sem Terra. Com registros de invasão de latifundiários, a região também é marcada pela mão de obra escrava.
No Instituto Federal Rural de Marabá, vimos a dedicação e seriedade ao trabalhar a educação, tendo a natureza como principal aliada para aprofundar o conhecimento a partir de eixos como a diversidade, a interação e o respeito ao meio ambiente. O Instituto é um terreno cedido pelo movimento para a formação de camponeses.
Aldeia indígena Gavião Akrãtikatêjê
Visitamos também a Aldeia indígena Gavião Akrãtikatêjê que está localizada na Terra Indígena Mãe Maria, no município de Bom Jesus do Tocantins. Vimos o trabalho desenvolvido por eles que envolve o cuidado em proteger o lugar e os recursos naturais, além de fabricarem o próprio bloco para construir as casas, e a coleta anual de toneladas de castanhas.
Katia Silene, Cacica do povo Gavião Akrãtikatêjê, recebeu e nos mostrou como o trabalho duro levantou a comunidade com diversas produções e práticas já cultuadas pelos povos indígenas que há tanto resistem.
“Cada um vai ter o seu, mas trabalhando. Acorda cedo, aproveita o tempo, trabalha. Tanta terra, nós temos galinha para comer, tem tanta coisa, o peixe aí para cuidar”.
A nossa roda de conversa com os movimentos sociais teve muita troca de conhecimento, interação e reconhecimento dessa comunicação que une os coletivos e conecta as amazônias brasileiras.
Terra de tantas belezas, Marabá nos encantou com suas particularidades advindas de um povo miscigenado e acolhedor. A Cidade Poema tem na sua história o sangue, o suor e a resistência de tantos que lutaram e ainda lutam para garantir a proteção do seu território, de suas tradições e do meio ambiente.