A mais recente série animada do Copa Studio (mesmos criadores de Irmão do Jorel) se destaca pela capacidade de nos fazer rir, ao mesmo tempo em que se apresenta como uma obra crítica que nos estimula a refletir os diversos aspectos de nossas vidas
Por Ana Pessoa
Comecei a assistir “Acorda, Carlo!” despretensiosamente pela tela do celular, enquanto ajudava Leleka a se desfazer das tranças no cabelo.
Ja me chamou a atenção, de cara, a dublagem que ali eu ouvia…muito envolvente e cômica, dando vida àqueles personagens. Me lembrei de um documentário que assisti no Festival Manuel Padeiro, em Pelotas, lá por volta de 2011 (se não me engano) que falava da qualidade do trabalho de dublagem no Brasil, que é uma das (se não a) melhores do mundo. Nessa época eu cursava justamente Cinema de Animação, na UFPel (Universidade Federal de Pelotas).
Aí segui assistindo, cada vez mais interessada em cada episódio daquele desenho animado meio psicodélico, meio infantil, com uma mistura rica de técnicas de animação, diálogos inteligentes que te fazem rir e até se emocionar ao longo da aventura.
O enredo acompanha Carlo (CarLO, não CarloS, como o personagem insiste em retificar), um garoto que passou 22 anos dormindo e quando acorda se vê em um mundo totalmente diferente do que adormeceu. Se antes vivia na Ilha da diversão sem motivo – cheia de bixos, criaturas e monstros, que ficavam sob os cuidados da montanha Solange (Evelyn Castro), que distribuía biscoito Goiabitos para todos após as brincadeiras – Carlo desperta em um mundo mais sério, onde seus amigos, agora adultos, não lembram dos tempos passados, porque são obrigados a dar suas memórias ao Rei Blaus. E o pior de tudo é que os Biscoitos Goiabitos, maior paixão de Carlo, não existem mais.
Não tem como não perceber uma sátira ao contexto político brasileiro, seja através do muro amarelo que destrói a floresta para construir um shopping, ou dos negacionistas que insistem que a Ilha plana é redonda. É uma crítica direta também a essa idade adulta que confunde ser maduro com ser chato.
Sem contar a geniaal escolha da trilha sonora da série. Os episódios apresentam músicas originais que celebram os diversos ritmos da cultura brasileira, abrangendo estilos como axé, forró, rap, funk, pop rock nacional, entre outros.
É incrível ver como a arte, a cultura, a animação podem tocar temas tão profundos e importantes de forma leve e descontraída.
“Acorda, Carlo!” é a primeira série de animação original brasileira da Netflix, que pode abrir portas ao, de forma corajosa, buscar cativar não apenas o público infantil. Esperamos ansiosamente pela segunda temporada.