Por Isis Maria
A Temporada França-Brasil em Salvador abriu no fim de agosto com uma série de exposições que atravessam oceanos e memórias. Entre elas, está Fatumbia, mostra de Emo de Medeiros, no Museu de Arte da Bahia.
Emo é artista franco-beninense, descendente de Agudás — comunidade formada por afrodescendentes que viviam na Bahia e retornaram à costa africana no século XIX. Além de atuar como curador da exposição sobre Pierre Verger, o Fatumbi, ele apresenta agora 16 obras que dão corpo a um projeto pessoal e coletivo: contar, em imagens, a história de um renascimento.
O nome Fatumbia nasce desse encontro. É formado por Fatum (destino, em latim) e Bia (orixá da força), mas também presta homenagem a Fatumbi, nome que Verger recebeu ao renascer no vodun no Benim. Para Emo, esse batismo também reflete a travessia de Verger: “ao deixar a Europa burguesa para se perder nas ruas de Salvador e nas estradas da África, ele escolheu construir um mundo novo”.
As obras foram criadas com inteligência artificial, treinada a partir do Ifá, o oráculo divinatório que surgiu na Nigéria. Emo repetiu os 16 odus e refinou os comandos, até chegar às imagens da mostra. O recurso tecnológico, que à primeira vista pode causar estranhamento, revela-se como parte do próprio gesto de renascimento: atualizar tradições ancestrais em diálogo com ferramentas do presente.




O percurso da exposição é quase cinematográfico. Quadro após quadro, narram-se travessias: o navio negreiro que se transmuta em navio da liberdade; as filhas do segredo; a cachoeira que sopra o a força do destino; Iemanjá que acolhe seus filhos e ouve suas preces; a passagem entre dois mundos.
Se Verger foi o guardião do passado por vir, Emo se coloca como herdeiro dessa ponte entre África e Brasil. Suas imagens reivindicam o direito de recontar histórias, abrir frestas de memória e imaginar futuros possíveis.
Fatumbia está em cartaz no Museu de Arte da Bahia até 30 de novembro.