Em meio a um novo ciclo de reconstrução das políticas culturais no Brasil, a Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin) anuncia sua nova diretoria nacional para o biênio 2025-2027


A nova gestão foi oficialmente eleita para o biênio 2025–2027 e é composta por representantes de diferentes regiões do país, reafirmando o compromisso da ABRAFIN com a diversidade regional e a valorização dos festivais como potentes vetores das cenas locais. Ao lado de Ferraro, integram a nova diretoria: Melina Hickson (Porto Musical – PE) como vice-presidente, Karla Martins (Festival Varadouro – AC) como tesoureira, e Paulo Zé (Festival Morrostock – RS) como secretário-geral.
Criada em 2005, a ABRAFIN nasceu com a missão de fortalecer o segmento da música ao vivo no Brasil, articulando políticas públicas e promovendo o intercâmbio entre festivais e produtores culturais de todo o país. Após um período de retrocesso e desarticulação, agravado pela pandemia de Covid-19, a associação foi decisiva na mobilização de centenas de festivais em defesa da cultura — com destaque para o Manifesto dos Festivais Unidos em Tempos de Crise, que teve papel central na articulação da Lei de Emergência Cultural (Lei Aldir Blanc), sancionada em junho de 2020.
Agora, com a retomada de políticas culturais estruturantes e novos investimentos na cadeia da cultura, a ABRAFIN renova sua agenda de atuação, mirando o fortalecimento dos festivais independentes como espaços de criação, diversidade, circulação artística e geração de renda em territórios por vezes invisibilizados pelas grandes indústrias do entretenimento.
Um percurso de resistência e inovação
Novo presidente da entidade, Ivan Ferraro é fundador da Feira da Música de Fortaleza (CE), evento referência no país por articular mercado, formação e inovação na cadeia produtiva da música independente. Músico, produtor e gestor cultural, iniciou sua trajetória como baterista na cena cearense dos anos 1970 e, nos anos 1980, atuou com artistas como Ednardo, Manassés e Teti. Viveu por quase uma década na Alemanha, onde fundou o Quilombo de Berlim, centro multicultural que se tornou ponto de encontro da música brasileira e latino-americana na Europa.
De volta ao Brasil nos anos 1990, criou a Midiamix Comunicação Viva e cofundou a PRODISC – Associação dos Produtores de Disco do Ceará. À frente da Feira da Música, mobilizou parcerias com entes públicos e privados para promover a profissionalização da cena musical nordestina e nacional. Também atuou em colegiados federais como a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) e o Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC).
Ao assumir a presidência da ABRAFIN, Ferraro destaca o papel dos festivais como “trincheiras de resistência e criação coletiva”, em um momento em que o setor cultural se reorganiza para enfrentar os desafios da sustentabilidade, da descentralização dos recursos e da valorização das expressões artísticas locais. “Os festivais independentes não são apenas eventos — são territórios vivos de memória, inovação e afeto. São eles que ajudam a contar as histórias do Brasil que resiste e inventa o futuro”, afirma.


Perspectivas para o setor
A nova gestão da ABRAFIN pretende ampliar os canais de diálogo com o poder público, fortalecer redes de colaboração entre produtores e festivais, e fomentar políticas de fomento mais equitativas e territorializadas. Em um país marcado por profundas desigualdades de acesso à cultura, os festivais se revelam como instrumentos estratégicos de inclusão, formação e dinamização econômica.
Com nomes que trazem consigo histórias de luta, criatividade e ação política, a diretoria eleita sinaliza um novo ciclo de encontros, articulação e presença ativa no debate sobre o futuro da música e das artes no Brasil.
Viva os festivais brasileiros!