‘Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez’
Beto Guedes
O 1º Encontro das Montanhas – Articulação Cultural Sul de Minas aconteceu entre os dias 7 e 10 de setembro. Realizado em São Thomé das Letras (MG), o encontro proporcionou à artistas, produtores, articuladores, coletivos e espaços culturais uma imersão única na zona rural e promoveu a colaboração, a troca de experiências e a integração entre os agentes culturais, a natureza, suas artes, sonhos, objetivos e a experiência do convívio em coletivo.
Ao todo, reunimos 14 cidades localizadas, em sua maioria, no Sul de Minas Gerais: São Thomé, São Lourenço, Itapecerica, Bom Despacho, Carmo de Minas, Soledade de Minas, Caxambu, Baependi, Passos, Guapé, Guaxupé, Divinópolis, Ribeirão das Neves e Campinas, o que permitiu o mapeamento de artistas e espaços culturais e a criação de uma nova rede cultural do Sul do estado.
Realizado em formato colaborativo, o movimento do Encontro se organizou do diálogo do Coletivo Culturando na Montanha com diversos coletivos culturais, unidos para fortalecer e cooperar no desenvolvimento e na sustentabilidade das ações culturais na região, no estado e em todo o Brasil, entre eles o Circuito Cultural Canastra Rio Grande e o Coletivo Rio Verde.
Durante os quatro dias do Encontro, os agentes aproveitaram o convívio em coletivo, acamparam no espaço, partilharam das refeições e participaram das rodas de conversa e momentos de celebração.
Redes de cultura
As rodas de conversa tiveram um importante papel no Encontro, pois proporcionaram aos participantes um momento para expor suas histórias, sonhos, dúvidas e anseios, mas também um cenário para compartilhar conhecimentos, acesso a recursos e contatos, criando um ambiente favorável ao desenvolvimento e à diversidade cultural.
Entre as pautas conversadas, estavam as metas do Plano Nacional de Cultura (PNC), que colocou em debate as políticas públicas, Sistema Municipal de Cultura, Conselhos e editais.
A importância da criação de uma rede regional sólida foi um dos temas discutidos. Foi frisada a necessidade de mais encontros e a criação de uma cooperativa para melhor respaldar a rede que está sendo construída.
“Mais do que os debates culturais, o 1º Encontro das Montanhas cria um cenário de colaboratividade, estreitando as pontes existentes entre as montanha de Minas Gerais, onde a vivência transborda os sentidos, provocando uma união entre os integrantes por afinidades de sonhos e desenhos, fortalecendo essa teia cultural que se inicia no Sul de Minas Gerais”, explica André Magalhães Fernandes, produtor cultural e integrante do coletivo Culturando na Montanha.
Ativismo do cuidado
Outra prioridade do Encontro foi o debate sobre saúde mental entre os agentes culturais; uma pauta latente, principalmente em setembro, mês de prevenção ao suicídio. Dentro das rodas de partilha, foi possível compreender a importância de toda a rede estar fortalecida mentalmente e conectada para alavancar ideias e projetos de forma mais potente, respeitando os processos individuais e coletivos.
“A saúde mental de cada pessoa é por diversas vezes colocada em segundo plano quando estamos imersos dentro de projetos coletivos. O Encontro nos ajudou a ver que se compreendemos a realidade de cada um através de uma escuta empática, consequentemente o nosso poder de construção é potencializado, porque as trocas serão muito mais intensas, sinceras e verdadeiras”, observa Eloá Souza, agente cultural do Circuito Canastra Rio Grande.
A agenda do Encontro também foi marcada pelo “Festival Rural Recriando o Amanhã”, que levou para o espaço diversas atrações artísticas, exposições e performances locais e regionais, exaltando a potência da cena artística autoral mineira. Abraçados pelo cenário rural e pelas Montanhas, os coletivos presentes reconheceram a importância de reconectar o público com a terra e com a força do território rural de Minas.
Muita prosa, conspirações, comida caseira, muito café orgânico, banhos de sol e de rio, autocuidado e respeito ao território. Ao final, o sentimento de união ficou evidente nos participantes, que voltam para suas cidades com força para continuar a caminhada cultural, encorajados por uma nova rede, capaz de impulsionar o sonho coletivo de viver de Cultura de forma digna.
“É muito importante que existam mais espaços como foi o Encontro, pois a conexão em rede amplia os horizontes do fazedor de cultura. Ela oferece a oportunidade de fortalecer suas ações, ampliando o alcance e impacto de seus projetos. Através dessa conexão compreendemos a nossa identidade regional, nossas necessidades, nossos potenciais e como podemos, juntos, criar estratégias que possibilitam a difusão, valorização e preservação dessa nossa cultura, relíquia do Brasil profundo. Por isso, aguardem!!! Em breve teremos nosso 2º Encontro das Montanhas! “, declara Máira Aragão.
Economia Solidária
O Encontro não teve fins lucrativos e foi realizado baseado na economia solidária. Todo o custo – estrutura e alimentação – foi financiado coletivamente. Além da contribuição dos participantes, o Encontro buscou doações por meio de campanha de PIX e arrecadação de alimentos. O Encontro também teve o apoio da rede Minas Ninja, do Museu da Cana – Instituto Cultural do Engenho Central de Pontal/SP, Fazenda Tulha de Guaxupé, Empório do Campo de Três Corações e de comércios e hospedagens de São Thomé das Letras, como supermercado Noel, Café Magia, Pousada dos Anjos, Maktub Bar, Pousada Woodstock, Pousada Chalé de Pedra, Dr. Elói, Sítio Novo Aeon, Sítio Cantinho dos Pássaros, Espaço Livre, Bar do Jhonny e Sítio Morada de São Tomé.