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Festival Arte no Mato propõe rede colaborativa em zona rural de MG

por | maio 4, 2023

Equipe da regional mineira da Floresta Ativista participou do evento em articulação com o Circuito Canastra Rio Grande

Foto: Nadia Nicolau / Midia NINJA

Por Eloá Souza

A arte como eixo da vida, um ponto de encontro pela arte em meio a natureza. Entre os dias 29 de abril a 1 de maio de 2023, foi concretizada a segunda edição do Festival Arte no Mato, realizado pelo ponto de cultura ‘Casa Volante Teatro’ e pela rede de produtores culturais e artistas ‘Circuito Canastra Rio Grande’. Uma equipe da rede mineira da Floresta Ativista esteve no evento para fortalecer a conexão rural ao Circuito Mineiro de Festivais Independentes.

O centro da proposta do evento vem do desejo de instaurar um ponto de ações culturais em meio a natureza, em ambiente rural, longe do centro, mas próximo às raízes de Minas Gerais. Uma ideia que surge em 2019 da partilha e união de agentes culturais que se apresentam neste momento para compor uma rede colaborativa regional baseada na cooperação e na troca de saberes.

A Casa Volante, antes de se tornar ponto do Festival Arte no Mato, é também em sua origem uma cia. de teatro de bonecos e filme de animação formada em 2009, pelos artistas Guilherme PAM e Jeanne Kieffer. Vindo, ele, de Belo Horizonte, onde trabalhou de 2003 a 2009 no grupo Giramundo e ela da França onde se formou em artes visuais e teatro de bonecos. 

Se instalaram em 2010 na zona rural do distrito de Araúna, em Guapé (MG). Durante esse tempo o casal construiu de forma independente e com as próprias mãos a estrutura física que hoje serve a Casa Volante e ao Festival Arte no Mato. Chegaram do mundo, sem ter nenhuma relação anterior com a localidade e passaram por um longo processo de entendimento do panorama cultural local. 

“Sentimos que é urgente a valorização do ambiente rural genuíno, de sua cultura e de seu histórico”, ao mesmo tempo que é urgente apresentar coisas do mundo à fora para os rurais, mas com critério e cuidado para que não haja uma comparação desvantajosa para com a cultura local, o que exige uma horizontalidade na valorização das manifestações”, relata Jeanne Kieffer.

“A Casa Volante está em busca da sustentabilidade tanto ambiental quanto econômica, e para isso cria estratégias baseadas em conceitos da economia criativa e solidária e da agroecologia. Fundindo ações nas áreas cultural, social, econômica e ambiental. Formando uma malha de interação entre as disciplinas.”

O I Festival Arte no Mato que aconteceu nos dias 20, 21 e 22 de junho de 2019 na sede da Casa Volante foi o primeiro evento realizado pelos integrantes de Casa Volante e pelos primeiros integrantes e idealizadores do Circuito Cultural Canastra Rio Grande. O Festival foi palco para o lançamento do Circuito e para mais 16 apresentações artísticas, 5 oficinas, exposição fotográfica, mostra de cinema de animação com bate papo com os autores, encontro de capoeira, apresentação da Guarda de Moçambique de Guapé, rodas de conversa, passeios e brincadeiras em meio ao cenário natural único em que está localizada a Casa Volante.

Devido às restrições impostas pela COVID 19 a segunda edição do Festival Arte no Mato que deveria acontecer no ano de 2020 foi adiada por tempo indeterminado. Como alternativa de adaptação das atividades artísticas às novas normas de afastamento social, foi elaborado o projeto:  ‘Festival Arte no Mato –EM–CIMA–DA–LINHA–‘. Este Festival contou com uma série de filmes que revelaram o trabalho de artistas membros do Circuito Cultural Canastra Rio/Grande, exibido online através do canal do Festival Arte Mato no YouTube.

O projeto foi desenvolvido durante os meses de abril, maio e junho de 2021, na Casa Volante, realizado por meio dos recursos da Lei Aldir Blanc. O nome do Festival “Em Cima da Linha”, foi criado por revelar o atual cenário de insegurança que viveu o setor artístico-cultural, com seus passos e ações estrategicamente e milimetricamente pensados para a sobrevivência através da arte em meio a pandemia. Sendo assim, o Festival foi uma adaptação dos moldes do tradicional Festival Arte no Mato.

O Arte no Mato em Cima da Linha contou com a divulgação online de múltiplos artistas da região e seus trabalhos, envolvendo performances de dança, tecido acrobático, música regional, trabalhos manuais de cerâmica e de harmonia com a terra, pensado para que os artistas pudessem participar e aprender com as experiências de produção e sair do Festival com um material de divulgação permanente.

Retomando este ano as ações presenciais o II Festival Arte no Mato foi construído colaborativamente através de diversos mutirões na Casa Volante, que resultaram em um festival totalmente sustentável desde a estrutura feita apenas com materiais naturais, recicláveis, sem o uso de descartáveis até a alimentação orgânica feita com alimentos típicos da roça.

A programação do II Festival Arte no Mato contou com teatro, música, artes visuais, cultura popular, artesanato, agroecologia, gastronomia, apresentações, oficinas, debates e convivência. 

Na música, uma diversidade de artistas regionais que produzem arte autoral e de conexão com as raízes de seus territórios. Atrações como João Mendes Rio (Brumadinho/Capitólio), Charlis Abraão (Pimenta), Babi Jaques e Lasserre (Recife/ São João Batista do Glória), Grupo Encantoá (Carmo do Rio Claro), Banda Rainha dos Lagos (Capitólio), Só Tiago (Piumhi), Projeto Gira – Discotecagem e Circo (Passos), Rap 100 K.O (Ilicínea), Banda Lira Maestro Novato (Guapé) entre outros.

O Festival também recebeu peças teatrais e intervenções como a peça “Ensaio para Morte” do Núcleo de Atuação e Pesquisa (Belo Horizonte), apresentação mímica “Cotidiano” – Bruno Mariotti (Passos), teatro “A Boneca” – Vania Ságio e Grupo Tá na Cena (Passos), Teatro de Bonecos do Grupo Flor do Cafezal (Guaxupé) e intervenção “Parquear Bando” de Margô Assis (Capitólio/BH).

Foto: Rodolfo Ataíde / Midia NINJA

Em um resgate às raízes de Minas Gerais, o Festival recebeu também grupos tradicionais mineiros como a Guarda de Moçambique de Guapé e o Grupo de Capoeira de Guapé ‘Contra Mestre Lelê’.

A programação teve um destaque especial para oficinas diversas como a oficina gastronômica “Padaria da Roça” com Jeanne Kieffer, Poética Musical com João Mendes Rio, Artesanato Folclórico com Bernadete Fiorini, Circo e introdução ao malabarismo com Emanuel Arcanjo, Pancs e Flores comestíveis com Marina Mipus e Sensibilização Agroecológica, trama ecológica, reflexões e práticas com Vitor Ribeiro da Fazenda Tulha de Guaxupé.

Entre as diversas atrações, o II Festival Arte no Mato também recebeu exposições como a exposição fotográfica da artista Luci Sallum (Guapé), Mundo Casa Volante com a exposição de bonecos, cenários, autômatos, esculturas e desenhos e artesanato local e regional.

O último dia de Festival teve entrada gratuita com rodas de conversa sobre Afromineiridades, políticas culturais e regionais, cultura e arte em zonas rurais, como também diálogos e articulações sobre o Circuito Cultural Canastra Rio Grande, realizador do Festival junto da Casa Volante Teatro.

Além disso, o público também pode aproveitar os passeios às cachoeiras, banho no lago, passeios de kayak, tirolesa e jogos e brincadeiras diversas ligadas ao cenário natural.

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