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Se o Agro não respeitar a Amazônia, Mato Grosso será desertificado

por | maio 9, 2023

Nos 275 anos do Estado, é fundamental lembrar que embora o AGRO seja seu principal motor econômico, a maior riqueza do Mato Grosso ainda é sua enorme biodiversidade

Terra Indígena de Santana, do povo Bakairi, em Nobres (MT). Foto: Mídia NINJA

O Mato Grosso é o terceiro maior estado brasileiro e o único a ter, sozinho, três dos principais biomas do país. Além do cerrado e do pantanal, mais de 500.000 km² da Amazônia estão em território mato-grossense. Embora seja comum ouvirmos que importantes cidades do Estado, como Sinop e Alta Floresta, antes estavam na Amazônia, convém lembrar sempre que o fato de terem sido desmatadas e estarem localizadas no tristíssimo Arco do Desmatamento, não as exclui do bioma amazônico, nem de seu ecossistema, pois seguimos encontrando na região tanto espécies animais e vegetais típicas do bioma, quanto os recursos hídricos e o clima característicos do ecossistema. As propostas em tramitação para retirar o Estado da Amazônia Legal são tão ridículas e trazem tantos prejuízos econômicos imediatos que nem merecem maior consideração. Nada pode mudar a realidade de que o Mato Grosso é parte fundamental da floresta amazônica!

Entre 51% e 53% do território mato-grossense está localizado na Amazônia, embora um percentual ainda maior do Estado possa ser de florestas, isso porque tanto o cerrado quanto o pantanal possuem áreas de floresta ainda preservadas. E quando falamos de biodiversidade e riquezas naturais, o Mato Grosso torna-se uma região ainda mais importante, pois o Estado caracteriza-se também como um dos ecótonos mais importantes do mundo. Ecótonos são regiões de transição ambiental, áreas de fronteira entre biomas. No Mato Grosso está localizada a área de transição entre a maior floresta tropical do mundo, que é a Amazônia, e a maior região de savana do planeta, que é o Cerrado. Nessas áreas de transição surgem espécies únicas, resultantes justamente do encontro dessas biodiversidades.

Amazônia vale mais que soja e ouro

Durante toda a mal contada história do Brasil, qualquer pretenso avanço serviu sempre de pretexto para produzir um rastro gigantesco de floresta no chão. Nunca foi diferente e ainda hoje somos assombrados pelo monstro do desmatamento devorador de florestas.

Só nas últimas duas décadas, perdemos a cobertura vegetal de uma área equivalente a 6% do território nacional, parte importante desse desmatamento foi produzido justamente no Mato Grosso e principalmente pela expansão da fronteira agrícola e das áreas de pastagem. Há uma verdadeira cadeia destrutiva: a extração ilegal da madeira abre o terreno tanto para a mineração ilegal como para a grilagem e a monocultura mecanizada que é quem acaba ocupando finalmente essas áreas. O ecocídio é, portanto, intencional e continuado tendo ainda um mesmo beneficiário final: o agronegócio. Um verdadeiro extermínio de nossa biodiversidade, em nome da monocultura da soja, do milho e das pastagens para o gado, em suma, para o crescimento econômico do agronegócio. 

Na contramão do mundo, o Brasil registrou nos últimos anos um inaceitável aumento em sua emissão de gases de efeito estufa. No total das emissões brutas, 92% correspondem justamente a essas alterações de uso da terra, resultantes principalmente do desmatamento na Amazônia pela expansão da mineração ilegal e do AGRO. A taxa de desmatamento ilegal em áreas de mineração aumentou mais de 90% na Amazônia entre 2017 e 2020. O último Relatório Anual do Desmatamento, feito pelo Mapbiomas, comprova que o agronegócio é o principal responsável pelo desmatamento ilegal no Brasil. Na comparação entre 2020 e 2021, a perda de cobertura vegetal no país cresceu 20% e registrou alta em todos os biomas. O estudo aponta que a agropecuária provocou 97% da perda de vegetação nativa, principalmente na Amazônia, que concentra 59% da área desmatada no período, seguida por Cerrado (30%) e Caatinga (7%).

Apesar de ter cumprido parte importante de suas promessas de campanha já nos primeiros 100 dias, o governo Lula ainda não foi capaz de zerar o desmatamento na Amazônia. Pior ainda, nesse período o desmatamento continuou aumentando. É claro que trata-se de um enorme desafio, não só pelo nível de desmonte dos órgãos de fiscalização e controle ambiental, mas também pela enorme capilaridade alcançada pelas organizações criminosas e pela indústria da destruição ambiental que dominaram a região nos trágicos anos do governo Bolsonaro. Apesar disso, é preciso confiar na capacidade de Marina Silva e do próprio Lula para interromper o desmatamento com urgência e fo​​rtalecer as políticas de proteção ambiental, com todos os instrumentos ao alcance do Estado Brasileiro, o que inclui as Forças Armadas, Polícia Federal e Força Nacional, para além do IBAMA e demais órgãos da fiscalização ambiental.

Foto: Mídia NINJA

Mato Grosso e a emergência climática: uma enorme oportunidade

O planeta e a humanidade estão adoecidos e pedem socorro. Há cerca de 30 anos, a comunidade científica emite sinais de alerta sobre a crise climática que se tornou iminente. Até agora, nenhuma medida conseguiu interromper a dinâmica do colapso anunciado. Ao contrário, a catástrofe foi quem se acelerou. Os líderes políticos e econômicos do mundo, até aqui, falharam reiteradamente. Não sejamos ingênuos: não é hora de negar a política. A hora é de ocupá-la para torná-la uma ferramenta na luta maior de todos os povos que é a luta pela Mãe Terra. Colocar a política a serviço da cura do mundo e da humanidade. A cura, também em seu mais amplo sentido.

Nesse sentido,assim como toda a Amazônia,  Mato Grosso está no centro do debate mundial. Não só porque todo o planeta precisa da floresta para enfrentar a emergência climática, mas também porque o Estado está desafiado a apresentar ao mundo um modelo sustentável de agronegócio, que saiba converter parte das áreas de monocultura em agroflorestas, que saiba minimamente respeitar a lei e manter áreas de preservação correspondentes às dimensões dessas propriedades, que interrompa o envenenamento do solo, das águas e do alimento produzido pelos agrotóxicos. O primeiro passo deveria ser a total proibição do envenenamento feitos pelos aviões que lançam agrotóxicos no ar.  

Do ponto de vista econômico, o produto brasileiro vai enfrentar cada vez mais rastreabilidade no mercado internacional e o consumidor estrangeiro será cada vez mais exigente em relação à responsabilidade ambiental dos produtores. Qualquer empresa relacionada com a cadeia de destruição ambiental sofrerá cada vez mais embargos e mais boicote. Além disso, e de modo ainda mais decisivo, ou o AGRO respeita a floresta ou não haverá água para consumo nem para irrigação de lavouras e as áreas de desertificação vão se alastrar por toda a região, porque é real a ameaça de desertificação e a falta de água já se tornou uma realidade em determinadas regiões do Estado.

Estamos já muito próximos do ponto de não retorno, o marco a partir do qual já não haverá possibilidade de reconstrução daquilo que foi destruído e uma espiral destrutiva consumirá todos os recursos naturais de toda a Amazônia, com tudo o que isso pode significar de catástrofe para o planeta inteiro e o conjunto da humanidade.

A batalha do futuro é aqui e agora! O Arco do Desmatamento precisa se transformar em Círculo da Vida ou Arco da Cura e do Reflorestamento. Estamos diante de uma enorme oportunidade de projetar o Brasil como uma potência ambiental, florestal e humanamente desenvolvida. Um país que elimina agrotóxico, vence o veneno e abre caminho à produção de orgânicos e alimentos saudáveis para a cura do mundo. 

Para que o futuro exista e seja melhor para todos, o governo, os empresários da agropecuária mato-grossense, os coletivos e movimentos sociais de Mato Grosso terão um papel determinante. O reflorestamento como uma urgente revolução cultural para impactar em todos os níveis da vida porque é a própria vida quem precisa vencer. Se a cura está na floresta, REFLORESTA JÁ!

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