Organizar o ódio. Essa é uma das raízes da pixação, do skate, da cultura da periferia, e uma professora e sindicalista que estava na sessão de Urubus, que aconteceu na NAVE Coletiva nessa quarta-feira, 24 de maio, falou da importância dessa frase. Não se trata do sentimento, mas de como ele será canalizado. Em vez de se tornar criminoso ou traficante, a pixação dá uma outra perspectiva e escape pra quem vive nas periferias brasileiras, e é sobre isso que o filme fala, levantando um -debate potente após a exibição do longa-metragem de quase duas horas.
Urubus, dirigido por Claudio Borrelli com produção executiva de Fernando Meirelles, é baseado na vida de Cripta Djan, pixador, artista e ativista que também foi um dos roteiristas do filme. O longa mostra a realidade de quem pixa na cidade de São Paulo, e apresenta o maloqueiro da periferia, aquele mano que os moleques da quebrada vão se identificar. Foram quase 15 anos pra levar a história pras telas, e mostra como é a vida e o risco de quem se arrisca escalando prédios para deixar sua marca, pra desafiar uma sociedade que tenta apagar quem não está no centro, quem não é playboy.
“Pixação mudou minha vida”
Essa foi uma das frases mais faladas de quem veio ver o filme na NAVE Coletiva, inclusive de pixadores que atuaram no filme. Depois da exibição aconteceu um debate com Cripta Djan, a pixadora Eneri, a liderança dos entregadores Galo de Luta com mediação de Andreza Delgado.
“Se a sociedade soubesse o bem que essas casas de desajustado social faz, que o hip hop faz, que o skate faz, que a pichação faz, tudo esses rolê que pega esses manos e ajuda a organizar o ódio faz, se eles soubessem eles tavam agradecendo de joelhos pra pixação, pra tudo isso aí, porque de alguma forma esse ódio vai escapar, ou com a peça (revólver) na sua cara, ou com a tinta na parede”, pontuou Galo durante a conversa, mostrando que o pixo é mais que parece para muita gente.
A pixação é revolucionária, e Urubus traz esse debate pras salas de cinema e mostra essa arte urbana e as realidades desses artistas da quebrada, afinal, como foi dito no debate, “pixação salva vidas, muda histórias”.