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Casa NINJA Amazônia encerra 2ª etapa de tour no Amapá

por | out 11, 2023

No Estado, a equipe visitou coletivos e comunidades que há séculos vivem na região

Foto: Mídia NINJA

A última parada da Casa NINJA Amazônia Tour pelas amazônias brasileiras, foi no Amapá, onde os primeiros habitantes eram indígenas das etnias waiãpi, palikur, maracá-cunani e tucuju, incluídos nos troncos linguísticos aruaque e caribe.

A criação do Território Federal do Amapá ocorreu em 1943, onde o mesmo foi desmembrado do estado do Pará e permaneceu assim até 1988, quando foi elevado à categoria de estado. Atualmente a região metropolitana da cidade é composta pela atual capital Macapá, Santana e Mazagão. Além dessas, outras cidades importantes do Amapá são: Laranjal do Jari, Oiapoque, Pedra Branca do Amapari e Porto Grande.

Os pratos típicos amapaenses compõem a culinária amazônica e possuem similaridade com a culinária de outras regiões do Brasil, em especial, do estado do Pará. O prato típico mais representativo do estado é o açaí acompanhado de farinha de mandioca e alguma proteína, como peixes, camarão regional, frango ou carne vermelha.

A Casa NINJA Amazônia foi em algumas das cidades amapaenses para conhecer mais sobre as histórias que habitam o estado.

No Amapá, fomos à Rádio Difusora para falar sobre os projetos da Casa NINJA, além de divulgarmos nossa passagem pelo Estado. Atuando há mais de 70 anos informando a população amapaense, a rádio Difusora tem o entretenimento e o jornalismo como gêneros imprescindíveis para a disseminação da comunicação local.

Conhecemos também a Fortaleza São José de Macapá, a maior fortificação portuguesa na América do Sul. Sendo esta construída no século XVIII, a mesma foi erguida por mão-de-obra negra e indígena escravizada. Dos canhões instalados na Fortaleza, nunca foi disparado nenhum tiro. Com uma arquitetura rústica, o monumento histórico é um dos mais antigos pontos turísticos da capital amapaense.

Ainda na Fortaleza, encontramos o escritor de crônicas, contos e poemas Fernando Canto, que fez uma análise acerca das identidades que constituem a cidade. Ele que já escreveu mais de 15 livros de diversos gêneros literários, além de ser autor de trabalhos de cunho científico na área da sociologia e da antropologia, falou sobre a valorização das manifestações culturais amazônicas:

“Nós temos muito o que fazer, muito a mostrar. Infelizmente nós somos invisíveis enquanto autores. A Amazônia toda, nas coisas artísticas principalmente”.

Já no Museu Sacaca, mergulhamos na história e na ancestralidade local, através das exposições dispostas no lugar, onde revela a resistência de tantos amazônidas que edificaram a cidade e deixaram seu legado.

Tendo o maior o circuito expositivo a céu aberto, sendo este construído com a participação das comunidades indígenas, ribeirinhas, extrativistas e produtoras de farinha do estado, o Museu Sacaca desde 1997, vem buscando valorizar as tradições do povo amapaense demonstrando a relevância desse resgate cultural.

Também fomos até a Casa do Artesão Amapaense, que é considerado o maior centro de exposição e comercialização de artesanato do Amapá, onde reúne trabalho de artistas de todo o estado.

Nas peças que compõem o espaço, estão registrados os traços e uma diversidade que torna cada objeto único. Sendo produzidas a partir de argila, madeira, sementes, fio, fibra, escama e tecidos, cada artesanato comercializado é parte integrante da narrativa histórica da cidade.

Lá também promovemos roda de conversa, na qual teve a participação de jovens, universitários e artistas locais e discutimos sobre a existência da Amazônia na política mundial, sendo esta primordial para a sobrevivência do planeta.

Já no Quilombo do Curiaú, uma vila que fica no município de Macapá, fomos contagiados pela ancestralidade do lugar e pelas histórias que perpassam gerações, estas narradas por Dona Esmeraldina. Durante a conversa, ela nos contou sobre a origem do Curiaú:

“Muitos deles ainda foram escravos, a minha avó nasceu no dia 13 de maio de 1888 aqui no Curiaú. Então o pai dela contava pra ela que para eles terem as coisas, eles tinham que enterrar dinheiro, as coisas que eles tinham. Aqui era uma área de garimpo, então eles tinham ouro, mas tinha que enterrar”.

Dona Esmeraldina, que também é escritora, tem vários livros lançados, nos quais as músicas de Marabaixo, chamadas de “Ladrão”, serviram como inspiração. Nesse encontro, ela também nos ensinou que realizar sonhos é possível: um dos dela era estudar e agora ela está fazendo mestrado.

No Quilombo do Curiaú, este regularizado pela Fundação Cultural Palmares em 1998, o Marabaixo e o Batuque animam as festas ocorridas durante o ano. Acompanhados pelas batidas de pandeiros de couro, pelos tambores ou pelas caixas, o Quilombo do Curiaú mantém viva a tradição que faz parte da identidade cultural do seu povo.

Visitamos também as louceiras do Maruanum, mulheres quilombolas, amazônidas e ceramistas que produzem artesanatos com um barro específico da região. Das mãos das moradoras do Distrito do Maruanum, inúmeras peças são moldadas perpetuando uma tradição que passa de geração em geração. Mulheres que aprenderam com suas mães a fazerem panelas, fôrmas de bolo, alguidares, lamparinas, potes e muitos outros utensílios, utilizando o barro como matéria-prima.

Durante a visita, conversamos com Dona Mariquinha que nos contou como é feito o ritual para extrair o barro:

“Pra gente tirar essa argila, aí é um trabalho muito grande. A gente tem que fazer um buraco grande mesmo, a gente tira toda terra, chega lá a gente pede licença pra ‘vozinha’, isso é lenda dos antigos, quando a gente chega lá a gente pede licença pra ela dar o barro rápido pra gente”.

Na nossa visita à Ilha de Sant’Ana, conhecemos a Samaúma, uma árvore que compõe a floresta amazônica. Os troncos grandes impressionam quem visita a ilha, já suas raízes, estas chamadas de sapopemas, podem ser utilizadas como forma de comunicação por meio de batidas. Nos barcos utilizados para a travessia até a Ilha, é possível avistar as casas de ribeirinhos, além de apreciar a paisagem composta pela floresta e pelo rio Amazonas.

Já o nosso Encontro NINJA este realizado em Santana, teve a participação de ativistas locais, comunicadores, articuladores, agentes culturais e movimentos sociais onde buscamos potencializar esses coletivos que atuam na defesa do meio ambiente, das iniciativas culturais, além de conectarmos essas amazônias brasileiras através de histórias e da troca de experiências.

Na visita da Casa NINJA Amazônia Tour à Escola Família Agroextrativista do Carvão, em Mazagão Velho, vimos o compromisso e a força do trabalho coletivo em consonância com a natureza para a difusão de iniciativas culturais.

Em cada rosto presente, era notório a determinação e alegria ao desenvolver um projeto em parceria com Associação Nossa Amazônia – ANAMA, onde a educação no campo é o principal alicerce e que desde 1997, vem transformando vidas e gerando renda a partir do desenvolvimento territorial do Amapá.

Ainda em Mazagão Velho, fomos à comunidade que de forma coletiva criou o grupo folclórico Raízes do Marabaixo, que em parceria com a Banda Placa, desde 1998 tem o propósito de valorizar e difundir a cultura através do marabaixo.

Entre as batidas do mestre de caixa, nas danças de roda e canto, a cultura negra amazônica resistiu há séculos de opressão, onde o marabaixo além de ser símbolo da identidade destes povos, reforça sua resistência em manter vivo um patrimônio cultural passado de pais para filhos.

No Amapá nos encantamos com a força, a história e a cultura presentes em cada lugar que visitamos, em cada comunidade que a conversa se estendeu até uma dança de roda. Na terra do camarão no bafo, do açaí, da festa de São Tiago e do marabaixo, conhecemos mais riquezas espalhadas por este país tão diverso e amazônico.

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