
No último domingo (7), a Nave Coletiva recebeu a pré-estreia de “Malês”, filme que retrata a maior revolta negra contra a escravidão da história do Brasil. A sessão marcou o início da CineNAVE, frente cultural dedicada ao cinema, e consolidou a nova fase da casa, reaberta ao público em agosto.
A data não poderia ser mais simbólica: o evento ocorreu no Dia da Independência, na mesma semana em que começou o julgamento de Jair Bolsonaro e militares. Exibir “Malês” nesse contexto foi entendido pelos organizadores como um gesto político. “Conectamos Brasília a um cinema negro e potente, e isso, neste dia específico, é muito mais que programação cultural: é um posicionamento”, destacou a produção.
A mobilização foi intensa. Houve assessoria de imprensa, participação ativa do elenco na divulgação e até convite direto durante o Caminhos de Exú, marcha realizada na capital no mesmo dia. O resultado foi uma plateia diversa e engajada.

A organização levou cerca de duas semanas de trabalho direto e aconteceu de forma totalmente independente, sem patrocínio formal. A única parceria foi com a distribuidora do filme.
“Realizar gratuitamente um evento desse porte, voltado à comunidade negra, é um investimento político nosso”, afirmou Dríade Aguiar, uma das organizadoras do evento.
O impacto da sessão extrapolou as paredes da Nave. A repercussão foi tão significativa que abriu caminho para uma exibição especial no Cine Alvorada, cinema do Palácio da Alvorada. No sábado anterior, o presidente Lula, a primeira-dama Janja e ministros assistiram ao filme ao lado do elenco e da direção. O ator Antônio Pitanga revelou que Lula pediu à ministra da Cultura, Margareth Menezes, o mapeamento de novas histórias de heróis e heroínas negras para o cinema brasileiro.
Com a boa recepção, a CineNAVE já planeja novas edições ainda este ano. Para os organizadores, esse é apenas o começo de um movimento que pretende firmar Brasília como espaço de referência para o cinema negro contemporâneo.